O Deus de Spinoza

O Deus de Spinoza

À G.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'.

Inicialmente quero deixar bem claro que não tenho nenhum preconceito contra qualquer tipo de religião, apenas me reservo o direito de externar minha opinião a respeito do assunto.

Desde os primórdios da humanidade, temos conhecimento de que foram criados uma grande quantidade de deuses e também de regras de conduta, geralmente engendradas por pessoas fanáticas ou então de dirigentes (reis, religiosos, etc.) que necessitavam manter controle sobre o povo.

Essas regras além de alienadoras, em alguns casos eram muito cruéis, mas as populações as seguiam com medo do castigo do deus que fora criado e no qual acreditavam.

Na minha opinião, estas regras nunca foram criadas realmente por nenhum deus, e sim por seres humanos comuns, haja visto que nos dias de hoje, em algumas religiões, estas regras estão sendo mudadas de acordo com indícios definitivos da ciência, que provam de forma irrefutável que algumas passagens são apenas estórias para impressionar seus seguidores. Haja visto que a própria igreja católica, costuma santificar pessoas por decreto.

Também existem religiões, que mesmo na atualidade, mantém as mesmas regras de séculos atrás, deixando o mundo estarrecido com tanta ignorância e crueldade que vemos diariamente acontecer.

Mesmo aqui no Brasil, atentem para quantas novas religiões foram criadas, a maioria para dominar e se apossar de bens da população crédula, isso tudo em nome de Deus.

Acredito que realmente existe uma energia criadora desconhecida que rege todo universo, mas esta energia que a maçonaria chama de G.'.A.'.D.'.U.'. não nos infringe nenhuma regra de conduta religiosa, deixando que cada um defina a maneira que deseja seguir a vida espiritual.

Todo este preambulo foi para chegar ao ponto que quero demonstrar, a melhor descrição de Deus que conheço que foi escrita por Baruch de Espinoza, um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz, e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

 

Baruch Spinoza (1632-1677) nasceu em Amsterdã, Holanda. Era de uma família tradicional judia, de origem portuguesa. Sua família emigrou porque os judeus estavam sendo perseguidos. Seu pai era um comerciante bem sucedido e abastado. Spinoza gostava de estudar e ficava na sinagoga. Era um dos melhores alunos. Aprendeu a Bíblia Sagrada e o Talmude. Então foi para uma escola particular, onde conheceu o latim. Pôde então ter um estudo mais abrangente. Leu sobre a identificação de Deus com o universo, sobre a associação da matéria com o corpo de Deus. Se interessou muito pela filosofia moderna, como Bacon, Hobbes e Descartes. Então foi acusado de heresia, por se mostrar irredutível em suas opiniões.

A 27 de Julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã puniu Espinoza com o chérem, equivalente hebraico da excomunhão católica, pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e a Bíblia, uma obra metafórico-alegórica que não pede leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus.

Spinoza fez uma análise histórica da Bíblia, colocando-a como fruto de seu tempo. Critica os dogmas rígidos e rituais sem sentido nem poder, bem como o luxo e a ostentação da Igreja. Por suas opiniões, um homem tentou matá-lo com um punhal. Escapou graças à sua agilidade. Ofereceram uma pensão para ele manter fidelidade à sinagoga e Spinoza recusou. Foi então excomungado, em 1656. Amaldiçoaram-no em ritual. Depois disso, viajou pela Holanda. Os judeus não falavam com Spinoza, mas os cristãos sim. Apesar disso, não se converteu ao cristianismo. Seus familiares quiseram deserdá-lo. Lutou pela herança do pai e ganhou a causa. Mas recusou-se a recebê-la, só queria fazer valer seus direitos.

Spinoza era uma pessoa muito frágil, pois seus pais eram tuberculosos. Viveu uma vida modesta, frugal e sem grandes luxos. Se sustentava com algumas doações e com o dinheiro de polidor e cortador de lentes ópticas. Mantinha uma relação com amigos e admiradores, discutia suas idéias, e se correspondeu bastante. Suas principais obras são: Tratado Político, inacabado; Tratado da Correção do Intelecto; Princípios da Filosofia Cartesiana; Pensamentos Metafísicos; que veio de curso particular que deu sobre Descartes, e sua obra prima: Ética. Algumas obras suas foram incluídas no Index de livros proibidos. Foi preso sob acusação religiosa e morreu na prisão, aos quarenta e quatro anos.

A vida de Spinoza foi marcada pela sua concepção de Deus. No Tratado teológico político defende uma interpretação da Bíblia diferente da visão dogmática de judeus e cristãos. Para ele a Bíblia está no sentido figurado. Spinoza atacou a falsa noção que se tem de Deus e da espiritualidade. Mais tarde, identificou isso como um erro da mente e diz como escapar, no Tratado da Correção do Intelecto. Ainda no Tratado Teológico Político, diz que as massas tendem a associar Deus com fenômenos extraordinários, que não ocorrem comumente na natureza. O ponto principal do pensamento de Spinoza é a comunhão entre Deus e a natureza. Spinoza critica a religião porque ela está alimentada pelo medo e a superstição, e que devemos fazer uma interpretação racional da Bíblia. A diferença entre filosofia e religião é que a primeira busca a verdade e a segunda precisa da obediência para ser realizada. Spinoza saiu da sociedade. Desde que foi excomungado, viveu à parte. Isso implicava em buscar vivências incomuns às galerias. Spinoza buscou a espiritualidade racionalista, é profunda sua cultura e é clara sua visão de assuntos que estão fora da subjetividade, e envolvem um conhecimento complexo, conhecimento este que nos dias de hoje são marcado pela banalização cultural e a ideologia deturpada pelas derrotas sucessivas. Desse modo, Spinoza, numa época ainda pura nos conceitos, fala de Deus, da alma e da mente. A religião e o Estado devem estar subjugados à eles. Spinoza não acreditava na divindade de Cristo, mas o colocava como o primeiro entre os homens. Spinoza, na mesma época que Locke, defendeu o liberalismo político. Para ele, direitos naturais são as regras do ser. Somos forçados a obedecer as leis naturais, que são divinas e eternas, e a ajuda mútua é necessária e útil. Sem ela, os homens não poder viver confortavelmente nem cultivar seus espíritos. O objetivo do Estado não deve ser tirânico, mas libertário. O direito natural em Spinoza é compatível com a democracia: é nas grandes massas que a natureza humana melhor se manifesta.

Einstein quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

 

Vamos então conhecer o texto criado por ele. É como se Deus estivesse falando diretamente com cada um de nós, portanto prestem atenção e se imaginem ouvindo-o:

Pare de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças, é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pare de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.

Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pare de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pare de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?

Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?

Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.

A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre.

Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.

Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.

Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.

Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pare de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.

Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pare de louvar-me!

Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido? … Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.

A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.

Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora!

Não me acharás.

Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.

Baruch Spinoza.

 

Avaré, Agosto de 2014

Milton Fiorio - M.'.M.'.

 

Observações:

Após o chérem adotou o primeiro nome Benedictus ("Bendito", a tradução do seu nome original - Baruch - para o latim) assim atestando seu desvencilho da religião judaica.

Para sua subsistência trabalhava com polimento de lentes, durante os períodos em que viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rhynsburg, tendo recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, incluindo prestigiosas posições de ensino. Nesta última localidade escreveu suas principais obras.

Foi convidado a ensinar na Universidade de Heidelberg, recusou pois teria de arcar com as normas ideológicas, e seria impossível continuar com a sua obra.

Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos. A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Póstuma editada por seus amigos.